Filmes que (me) inspiram #1

       

   Agora que o frio chegou (e chegou em grande), inaugura-se oficialmente a época das tardes de Domingo no sofá, de manta estendida e chá quente na mão. Ficar em casa a ver filmes sabe-me especialmente bem nesta altura do ano, principalmente porque sei que lá fora está um frio tão desgraçado que não há hipótese de ir a lado algum.

Gosto de vários géneros de filmes, no entanto deixem-me desde já admitir que normalmente fujo do típico «cinema pipoca», expressão powered by Mário Augusto, onde se inclui uma vasta gama de estilos - desde o típico carros&tiros, às comédias românticas que só mudam no título. Para perder tempo em frente a uma televisão, gosto que o conteúdo me traga algo de novo, por pouco que seja. Julgo que não é ser muito exigente.

Os filmes que retratam viagens (ou que dão especial atenção ao local onde se desenvolvem), têm quase sempre algum efeito em mim - ora porque a estória é de tal modo intensa que me leva a reflectir sobre determinado assunto, ora porque o local é tão maravilhoso que fico com vontade de ir a correr marcar um avião para o destino em causa (ainda que o enredo não seja nada de especial). Digo-vos que já houveram filmes que influenciaram totalmente as minhas opções de viagem, que me fizeram pensar "é ali que quero ir a seguir" - e fui.

É isso que quero partilhar convosco, filmes que (me) inspiram, esperando que vos inspirem também. Como a lista é imensa e estou sempre a descobrir novos, é impossível reunir tudo num único post, pelo que vou publicando em pequenos grupos, sem nenhuma ordem de preferência.

THE WAY (2010) | Trailer

                                  

O enredo resume-se facilmente. Um médico oftamologista americano, Thomas, que após a morte prematura e inesperada do único filho nos Pirinéus, decide percorrer o Caminho de Santiago. O filho, Daniel, era um homem aventureiro e "nómada" por natureza, que tinha desistido da faculdade para viajar. Tom, por seu lado, era dedicado ao trabalho e, para além de desaprovar o estilo de vida do filho, raras vezes tinha contacto com ele ou sequer sabia por onde ele andava. Numa das muitas viagens de Daniel, concretamente no primeiro dia do caminho francês de Santiago, é apanhado no meio de uma tempestade à qual não sobrevive.

O momento em que é chamado para fazer a identificação do filho marca uma completa alteração na vida de Tom e o início da sua viagem. Decide terminar a jornada iniciada pelo filho e percorrer o Caminho de Santiago. Durante o percurso, revê toda a relação que teve com Daniel e revive algumas das memórias, o que resulta num filme que apesar de não ter muitas surpresas, se revela bastante inspirador.

"Tom - My life here might not seem like much to you, but it's the life I chose
Daniel -You don't choose a life, dad. You live one"

O filme acaba por ser também uma completa homenagem ao Caminho de Santiago, já que se podem ver as suas várias facetas - desde a reflexão pessoal, ao convívio, à frustração, à felicidade, às várias razões que levam uma pessoa a percorrê-lo. Enfim, é daqueles filmes que não tem nada de espectacularmente original ou sequer uma personagem super complexa. É um filme simples, sobre o luto de um homem que perdeu o filho e se apercebe do quanto a vida lhe tem passado ao lado - simples e duro, just as it is. Mas simultaneamente leve e com alguma dose de momentos alegres e até cómicos, o que faz com que os 120 minutos de duração passem facilmente.

THE MOTORCYCLE DIARIES (2004) | Trailer

O Diários de Motocicleta (no original) é uma película um pouco distinta da anterior, já que tem um carácter ligeiramente biográfico. Retrata a viagem de Ernesto (Che) Guevara e o seu amigo Alberto Granado pela América do Sul com a La Poderosa, uma motorizada Norton 500 - que na verdade só sobrevive metade do caminho. O filme baseia-se nas mémoires deixadas por ambos e é marcado por uma consciencialização relativamente à realidade da América do Sul no início dos anos 50.

Neste filme vemos o jovem médico argentino a transformar-se lentamente no ícone revolucionário que viria a ser. Acompanhamos a sua reflexão sobre a realidade cultural e económica da Argentina, do Chile e do Peru e a sensibilização progressiva para os problemas da população - desde  a falta de trabalho e comida, à exploração e vida indigna a que estavam sujeitos.

"No es este el relato de hazañas impresionantes. Es un trozo de dos vidas tomadas en un momento en que cursaron juntas un determinado trecho, con identidad de aspiraciones y conjunción de ensueños. Fue nuestra vision demasiado estrecha, demasiado parcial, demasiado apresurada? Fueron nuestras conclusiones demasiado rigidas?... Tal vez. Pero ese vagar sin rumbo por nuestra mayúscula América me ha cambiado más de lo que creí. Yo, ya no soy yo, Por lo menos no so yoy el mismo yo interior." - Ernesto Guevara

Mas não se deixem enganar pela importância que estou a dar a esta parte mais séria do enredo. O filme retrata também dois jovens acabados de sair da universidade, sedentos por descobrir novos mundos. Tem aventura e diversão nas doses certas, não deixando porém de demonstrar uma realidade verídica e complexa, que era a da América do Sul há 50 anos atrás.

Sei também que há também um livro com o mesmo título que nunca li, mas está na minha lista. Tenho algum fascínio pela cultura e história da América do Sul, pelo que gosto de ler coisas relacionadas com o assunto. Um dos meus grandes sonhos é fazer um backpacking por toda esta área, desde a Venezuela à ponta da Argentina e do Chile. Veremos quando se concretiza!

Já conheciam estes? Qual é o vosso filme favorito dentro deste género?

Até já,

Ana S.

Imagens retiradas daqui, daqui e daqui.