Por um estilo de vida mais minimalista
Nos últimos tempos os meus hábitos têm-se alterado bastante. Não me tendo forçado a nada, há determinados aspectos da minha vida em que percebo que estou a mudar naturalmente. Penso que caminho [devagar] para um estilo de vida mais minimalista. Bem, não sei se será a definição à letra da coisa (puristas do minimalismo, não me condenem), mas é para mim - uma vida mais simples, com menos coisas e focada naquilo que é realmente importante.
Any half-awake materialist well knows, that which you hold holds you.
- Tom Robbins
Foi um processo que começou há uns bons meses, quando decidi vender uma série de coisas que tinha e não utilizada (já vos falei disso neste post, num outro contexto). Na altura custou-me um pouco, mas sabia que era a única hipótese possível, que outra coisa não fazia sentido - que ter coisas só por ter, para acumular, não tinha qualquer lógica. O facto é que até ao momento não chorei nada do que vendi e até senti algum alívio por tê-lo feito, pois sei que passaram a ter utilidade para alguém. Pouco tempo depois disso também fiz uma grande limpeza ao meu armário e livrei-me de várias roupas que já não utilizava - ora porque já não me serviam, já não gostava do estilo ou simplesmente estava farta de as usar -. Passei-as a familiares e amigos e outras simplesmente doei. Mais um peso que me saiu de cima.
A par disto, tenho comprado muito menos. Já raras vezes compro roupa (excepto quando preciso mesmo), esforço-me por comprar livros apenas quando já não tenho nenhum para ler - o que tem sido difícil, porque de momento tenho uns 7 à espera de serem lidos e já não compro livros há mais de três meses (digamos que eu compro comprava sempre aos 2 ou 3 de uma vez) -, e tudo o mais que é supérfluo já quase não entra cá em casa.
Não julguem que acordei um dia a pensar "vou livrar-me de tudo o que tenho a mais e dedicar-me ao essencial", numa espécie de epifania - não. Tudo isto aconteceu de forma muito natural, manter as coisas foi-se tornando um sufoco, algo que me chateava constantemente. No entanto, ainda não cheguei onde queria. Enquanto escrevo isto olho à volta e vejo a minha secretária repleta papéis desnecessários, a estante repleta de livros que comprei e ainda não li, as dezenas de roupas e acessórios que tenho a mais e das quais tenho de me desfazer, porque claramente não preciso delas (estão ali paradas há tantos meses...).
Vivemos numa sociedade que nos obriga impele constantemente ao consumo. Que nos demonstra de mil e uma formas como temos de ter coisas para atingir a felicidade. E apesar de todos nós sabermos que não precisamos dos oito pares de botas ou cinco relógios para sermos felizes, compactuamos, na maioria das vezes, com tudo isto. E ter torna-se um vício - queremos mais, mais e mais, porque a felicidade plena nunca chega. "Mas não, é desta, com aquele casaco é que eu vou ser feliz". Como se tentássemos preencher todos os vazios das nossas vidas, esses que vão surgindo e ganhando forma, consequência de vidas demasiado solitárias, dos problemas que acumulamos, de trabalhos muito exigentes e/ou sufocantes, ou da falta de liberdade - aquela que nos dizem que temos mas que no fundo todos sabemos que não existe (porque estamos sempre dependentes de algo). E tudo isto é um ciclo: nunca nada chega, nunca nada é suficiente. Para mim, esta situação tem-se tornado cada vez mais sufocante, completamente exasperante.
Não sei bem quais serão os próximos passos. Como escrevi, não decidi nada disto, simplesmente senti necessidade e aconteceu - mas sei que há coisas que preciso de fazer. Sei que tenho de me desapegar da roupa que ainda é demasiada, porque mantê-la pela simples ideia de que eventualmente a vou querer voltar a usar é ridículo. Que tenho de me livrar da maquilhagem que já não utilizo e produtos que em tempos comprei e que já não fazem falta. Comprar mais em segunda mão também é um objectivo futuro, particularmente livros. Livrar-me de todos os cartões de lojas. De todos os objectos a mais, de todas as coisas. Procurar desapegar-me de tudo isto, porque sei que não é o meio para alcançar qualquer tipo de felicidade (pelo menos não para mim). Ficar mais leve e com menos necessidade de ter - ficar mais livre (?)
Trying to be happy by accumulating possessions is like trying to satisfy hunger by taping sandwiches all over your body.
- George Carlin
Como se sentem relativamente a isto? Como perspectivam os nossos hábitos de consumo actuais? Não há momentos em que pensam o quão ridícula é a nossa obsessão por coisas materiais, por ter?
Até já,
Ana S.
Imagem [fonte]
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Bom post. Concordo perfeitamente com a tua análise, e embora essa questão do "ter" me consuma a cabeça todos os dias, parece que já está tão inculcada na nossa cabeça que é difícil eliminá-la...ainda há tempos falei disto lá pelo blog também - o meu problema é mesmo roupa e sapatos, e a questão dos livros também me pega. Acabo por gastar dinheiro nestas coisas e depois para as viagens e assim sobra menos...quando me ponho a pensar muito nisto apetece-me ralhar a mim mesma lol
ResponderEliminarJiji
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Gostei imenso do teu post :) No que toca a roupa considero-me um bocado o extremo oposto (o que acaba por ser mau porque depois quero vestir-me de maneira melhor para certas ocasiões e tenho de ir a correr tentar encontrar alguma roupa gira), sou extremamente preguiçosa para ir a lojas procurar roupa que me agrade e a verdade é que também sou bastante picuinhas e as que mais gosto muitas vezes são demasiado caras (o eterno problema!). Em relação aos livros, apesar de ler bastante, não costumo comprar muitos; tenho a sorte de os meus pais terem uma biblioteca bastante jeitosa e entretenho-me a vasculhar entre os que têm até encontrar algum que me apeteça experimentar. No entanto há alguns que gostava de ler e que eles não têm e o que estou a pensar fazer em relação a esses é encomendar de Inglaterra (três dólares um livro, é impressionante). De vez em quando também faço limpezas no roupeiro, para mim é quase uma terapia da alma, sinto-me sempre bastante mais leve depois de o fazer :) De qualquer modo, gostei das tuas ideias, é um bom objetivo!
ResponderEliminarAdorei a tua iniciativa. Eu pessoalmente sou muito apegada às coisas porque sou sempre eu que poupo para o que quero comprar, pondero bem se vale ou não a pena e acho que não compro muitas coisas inúteis nem por "impulso" (excepto os livros que, tal como tu, quando compro nunca é só um!). Quanto às roupas, doar é sempre bom, faz-nos sentir que fazemos algo de útil para os outros e não ficamos nada prejudicados com isso :)
ResponderEliminarBeijinhos,
http://thelostlouboutin.blogspot.pt/
Já fui muito consumista. Tempos houve em que sentia uma necessidade exagerada de comprar coisas, mesmo sem precisar. Como se essas coisas preenchessem o vazio que sentia. Hoje sei que era mesmo assim, que o vício pelas comprar era uma forma de tentar preencher lacunas. Felizmente, consegui mudar, melhor dizendo, estou a conseguir mudar isso. Neste momento, estou mais preocupada em ser do que em ter. Não é um trabalho fácil, mas é possível. E se deixarmos que isso aconteça com naturalidade, melhor!
ResponderEliminarVivemos numa época de consumismo. Estudei isso há pouco tempo. Realmemte a ideia e os ideais onde nós, infelizmente nos inserimos, é de longe a maneira maos minimalista, pura e feliz de vivermos. Vivemos num mundo de, que quase me lembra a sociedade do antigo regime. Cheia de privilégios, diferenças entre nós tudo devido ao atual consumismo.
ResponderEliminarTambém espero poder viver um dia melhor comigo mesmo. Numa maneira mais minimalista onde me encontre e também descubra uma sociedade mais feliz e unida.
xx, Edna
http://neverforgottenmercury.blogspot.pt/
Adorei o teu post, confesso que já algum tempo que não lia um post tão grande, no entanto este em especial me chamou à atenção, é verdade que vivemos numa sociedade consumista, vejo isso quando tenho dois armários cheios de roupa, um na casa dos meus pais e outro na cidade onde estudo, não uso nem metade dessas roupas, inspiraste-me a fazer uma escolha à minha roupa e ficar apenas com o que realmente necessito e que realmente uso, doar a minha roupa a pessoas que precisam mais dela do que eu, vender algumas coisas e sim, também vou começar a comprar mais em segunda mão. Penso que preciso de mudar alguns hábitos.
ResponderEliminarR: Sim, preferes os mac's.
Quase tudo da apple a relação qualidade/preço não compensa, no entanto é como dizes o resto não tem o charme da apple, são mesmo dramas da vida.
Gostei muito do que li :)
ResponderEliminarConfesso que nunca fui de ter demais a nível de roupa ou sapatos, nunca achei que devesse ter mais ou que a felicidade se mediria através da quantidade de coisas que temos no armário.
A verdade é que vivemos numa sociedade que nos bombardeia constantemente com "falsas necessidades" e desprender de todas essas "histórias" que nos tentam contar é um verdadeiro desafio.
No entanto, é sempre possível vivermos mais com menos, criando um estilo de vida mais minimalista. O que tens feito para alcançar esse objectivo é muito bom :) Parabéns!
It's ok
Obrigado querida :D E sabes o que é melhor?! Não ter custo nenhum!!!
ResponderEliminarCom a vida e com isto da minha anorexia aprendi a viver mais dessa forma. A prestar mais atenção às pequenas coisas e a desapegar-me das mais fúteis. Passei a viver de uma forma mais vibrante mas, ao mesmo tempo, mais regrada e mais tranquila. Tornei-me, com a vida, muito mais consciente e com maior facilidade em descobrir as verdadeiras necessidades. Aquilo que realmente faz falta e nada mais!
é tudo uma questão de hábito. Eu acho!
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Instagram ∫ Facebook Oficial Page ∫ Miguel Gouveia / Blog Pieces Of Me :D
Gostei imenso do teu post :). E das citações, by the way.
ResponderEliminarConfesso que, às vezes, também tendo a acumular muitas coisas que já não preciso, e que poderiam ter utilidade para alguém ( também acumulo muitos livros, mas esses para mim nunca são de mais ahah, não consigo me desfazer deles. Tudo menos os livros!)É algo que quero mudar, mas ainda não o consegui fazer. Mas ler o teu post inspirou-me a fazê-lo.
O teu post fez-me querer ter também um estilo de vida mais minimalista :). Não é acumular coisas que nos vai fazer felizes. Temos que aprender que a felicidade vem das pessoas, das experiências e não de bens materiais ( embora às vezes também contribuam para isso).
Beijinhos,
Cherry
Blog: Life of Cherry
Tens muita razão, vivemos numa sociedade onde o consumo é desenfreado e persistente. A importância do ser tornou-se relativa perante o poder magnânimo do ter.
ResponderEliminarComeçar a mudar, ainda que gradualmente, será sem dúvida um alívio de todos estes pressupostos que nos atrofiam.
Concordo contigo, é por isso que não em preocupo com os bens materiais e ligo muito às coisas que para os outros são insignificantes e aos pormenores.
ResponderEliminareu ando a tentar convencer-me a doar livros, aqueles que já li e que sei que não lhes vou voltar a pegar porque não me marcaram e há tantos outros livros fantásticos ainda para ler, mas depois olho para eles e não consigo.. e olha que eu bem preciso de espaço para guardar livros (tenho cerca de 900) por isso doar os que ja li seria sem duvida um bom começo...
ResponderEliminarhttp://omeumundoaleatorio.blogspot.pt/
gostei muito deste teu post de reflexão!
ResponderEliminareu sei que tenho de me esforçar por ter um estilo de vida mais minimalista, porque às vezes o meu materialismo faz-me sentir mal (já cheguei a fazer compras por me sentir em baixo, depois percebi como tinha sido um erro e fui devolver). este teu post ajudou-me a interiorizar melhor isso :)
beijinhos
18 and a life ♡