Ode ao Alentejo e uma visita à Gruta de las Maravillas (Aracena, Espanha)



Parte 1. Ode ao Alentejo

Podemos passar por muitos lugares na nossa vida, mas poucos nos fazem sentir realmente bem e em paz. O Alentejo, para mim, é um deles. Parte da minha família é oriunda do Baixo Alentejo, de uma zona fronteiriça com Espanha. Consta que a minha bisavó - que nunca conheci - era espanhola, da zona de Sevilha. A casa que foi dela e da minha avó continua perdida no meio do Alentejo, no fim de uma rua e de uma aldeia, junto a uma ribeira onde em criança brinquei como se não houvesse amanhã.





A Aldeia

Naquela aldeia fui livre, corri que nem uma desalmada, explorei, fui criança. Passava horas dentro da velha ribeira onde no Verão apenas se vê correr um fio de água. Eu saltava de pedra em pedra enquanto tentava apanhar sapos, tarefa não raras vezes inglória - é que eu nunca gostei de sapos. Que ia dar trambulhões era certo e sabido, mas naquele sítio eu não chorava: levantava-me e seguia. Do alto do monte víamos a terra e o céu, as flores de todas as cores do mundo, os cavalos e os telhados das casas. Continuo a visitar a aldeia de tempos a tempos, ainda que agora já não para correr - é o meu local sagrado, de isolamento e paz, onde recupero energias e me foco no importante. A vida no Alentejo passa devagar e os dias chegam para tudo. E por isso volto.


A casa

A casa é pequena. Dois quartos separados por uma sala e entre esta e aqueles apenas cortinas. Paredes de terra e cal, branca como deve ser, chão de cimento pintado de vermelho escuro e um tecto composto por canas. Foi o meu avô que as colocou lá, uma por uma, e por aquele tecto não entra nada: nem luz, nem água, nem vento, nem calor. Uma grande lareira compõe a cozinha, a mesma que aqueceu os meus avós nos Invernos rigorosos. Mas agora não a usamos, pois que há um termo-ventilador que nos faz as delícias nas noites frias. Pois é, avô, a casa ainda está em pé, talvez um pouco mais habitável, cada vez mais bonita e airosa. Soubesse o meu avô como temos cuidado da casa e ficaria feliz. Mas nem tudo são modernices, não! Naquela casa não temos televisão, nem internet ou sequer rede no telemóvel, não: não há cá mordomias, apenas a casa e um quintal - e todo o Alentejo à porta.



Parte 2. A visita à Gruta de las Maravillas

No último fim-de-semana de visita à casa do Alentejo decidimos fazer uma incursão à vizinha Espanha e visitar finalmente a famosa Gruta de las Maravillas. Digo «finalmente» porque já várias vezes tínhamos pensado em fazê-lo, mas ainda não se tinha proporcionado. A gruta fica em Aracena, na Andaluzia, a cerca de uma hora de Sevilha. 


A Gruta de las Maravillas é uma das mais impressionantes grutas de estalagmites e estalactites da Península Ibérica. Reza a história que foi um pastor que a descobriu por acaso algures no início do século XIX, mas as primeiras referências claras à gruta não recuam além de 1850. Está aberta ao público desde 1914 e, dos 2130 metros de extensão, apenas 1200 são visitáveis. O interior da gruta é impressionante, deixando qualquer um abismado.


A gruta encontra-se debaixo do cerro do Castelo de Aracena, e pensar que estamos debaixo de uma fantástica fortaleza e vários metros de terra e rocha torna tudo mais entusiasmante. Aliás, se há coisa para a qual posso desde já advertir é que, se são claustrofóbicos ou se reagem mal a ambientes fechados e muito húmidos (ou seja, em que o ar se torna mais pesado e a respiração mais difícil), este não é, de todo, um sítio que vão querer visitar. Ao longo da visita vamos descendo em profundidade para os confins da terra (ok, não será tanto assim, mas tenho de dar algum drama à coisa), por túneis esguios e baixos, em que o nível de humidade aumenta progressivamente - tornando-se mais e mais abafado.

               Fotografias retiradas daqui.

São doze as salas visitáveis e cada uma é mais impressionante que a outra. Nesta gruta é possível descrever o trabalho da Natureza numa só palavra: perfeito. Há formações de todas as formas, feitios e dimensões, complementadas por belos lagos interiores de água cristalina e de uma beleza inexplicável.


A visita é obrigatoriamente guiada e dura entre quarenta minutos a uma hora. Quem nos acompanha conta-nos a história da gruta e das formações geológicas principais, guia-nos ao longo dos túneis e encruzilhadas e, para leigos em questões de geologia - como eu -, enriquece sem dúvida a visita. Infelizmente é proibido tirar fotos ou filmar dentro da gruta e, ainda que tenha conseguido algumas fotos de forma muito sorrateira, pecam pela qualidade e não fazem jus à beleza do interior (e por isso acrescentei algumas que não são da minha autoria).


E já que estávamos em Aracena, aproveitámos para visitar o cerro do castelo, cujas vistas são fantásticas, e comer umas tapas e una birra na esplanada do Noria Tapas - que não foram as melhores que já comi, mas deram para matar saudades.



COMO VISITAR?
As visitas, por serem guiadas, estão sujeitas a horários fixos e a um número limitado de pessoas por turno. Ou seja, é pouco provável que a consigam visitar mal cheguem - nós, por exemplo, chegámos pelas 15h e o nosso turno foi apenas às 16h15. Portanto, o melhor é chegarem antes para comprarem bilhete e contarem com uma hora de espera, que podem aproveitar para conhecer Aracena. Encontram todas as informações AQUI e, se ainda não vos convenci, vejam ESTE pequeno documentário, que certamente não vos vai deixar indiferentes à beleza do interior da Gruta de las Maravillas.


Já conheciam a Gruta de las Maravillas? Alguma vez visitaram uma gruta de estalagmites e estalactites? E o Alentejo, quem o adora tanto quanto eu?

Até já,
Ana S.


Já segues o blog pelo Facebook e Bloglovin'?
Related Posts

12 comentários:

  1. Sim,quando tinha 10 anos. Foi a primeira paragem de uma longa viagem q me levou ate Andorra,pela costa espanhola e,depois,regressei por Madrid.Natalia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Quando era miúda também me fartei de viajar com o meu pai por Espanha :) mas por acaso só agora tive a oportunidade de conhecer a gruta

      Eliminar
  2. Eu adoro o Alentejo, este ano é para lá que vou de férias! Adorei as fotos (=

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que bom! Eu vou muitas vezes para a Cosa Vicentina e, claro, também para este sítio do interior :)

      Eliminar
  3. Ao mesmo tempo que tenho uma imensa vontade de visitar grutas, tenho que relembrar-me que sou claustrofóbica e acho que teria um ataque de pânico.

    Nunca fui Alentejo... mas que fotos lindas.

    Beijinho,
    Catarina

    http://aveccatarina.blogspot.com

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois, é bem provável. Não querendo desencorajar ninguém, é provável que não seja fácil. Apesar da maioria das salas serem enormes, o ar é muito pesado e há muitos corredores longos e pequeninos.

      Eliminar
  4. O Alentejo é realmente sinónimo de paz e sossego! Adorei as fotos!

    http://checkinonline.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
  5. Que fotos maravilhosas, Ana! O Alentejo é das minhas zonas preferidas do nosso Portugal - é mesmo como dizes, o tempo parece passar mais devagar. E que saudades que tenho, já lá não vou há tanto tempo!

    A minha tese de mestrado foi acerca das grutas da Serra de Aire e Candeeiros, por isso podes imaginar como adorei este post - e já me deste ideias para um ahah :D

    Jiji

    ResponderEliminar
  6. Oi Como você está?
    Eu realmente gostei da entrada ^^,
    Segui seu blog Você me seguir de volta?
    xoxo
    Obsesión por la lectura

    ResponderEliminar
  7. Gosto muito do Alentejo, mas tenho um carinho especial por Trás-os-Montes. Posso identificar a maior parte das coisas que descreves com o que vivi pelo norte :)

    Adoro grutas! Ainda não fui a essa, mas fiquei com curiosidade. O ano passado visitei as Grutas da Moeda e no início deste ano fui às Grutas de Mira de Aire.

    ResponderEliminar
  8. Não vou muitas vezes ao sul, mas este fim‑de‑semana fui visitar uma amiga em Sines e devo dizer que ja não me lembrava de como o Alentejo é bonito <3 Com certeza vou tentar arranjar mais fins‑de‑semana prolongados para lá dar uma saltada :D

    ResponderEliminar

Quem escreve

Quem escreve
Sou a Ana. Curiosa por natureza e irrequieta por defeito. Conhecer é o meu passatempo favorito. Viajar, uma necessidade. Aqui escrevo sobre tudo o que me enche a alma. Sejam bem vindos!

E acompanha-me

instagram